sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Onde os lagos se congelam

A primeira vez que vi neve foi na Noruega, em 1997, quando participei de um festival de estudantes. Atravessei o país numa viagem de 6 horas, de Oslo até Trondheim. E a sequência de imagens, de paisagens brancas, da terra aparentemente sem vida, me fizeram valorizar o calor dos trópicos. Imaginei o passado distante e sem eletricidade (nem tão passado assim, afinal), e as técnicas e artimanhas que as pessoas tiveram que criar por conta do frio intenso. Com uma visão ufanista e ingênua, questionei: como um país com tanta porção de terra, com um clima tão propício como o Brasil pode ter tanta gente tão pobre? Hoje estou certa: o senso de prevenção necessário sob um clima tão rígido, certamente faz enorme diferença. E talvez justamente por isso o brasileiro tenha certa dose de despreocupação. O frio encolhe o corpo, obriga ao abrigo, enclausua as pessoas. Eu entendi o valor da primavera pros povos da Europa. Entendo Botticelli e sua Primavera  como o reflexo disso na arte: estive em Florença no final do outono e os reflexos do clima nas coisas do cotidiano já aparecia. Mas o inverno berlinense já mostra como as coisas funcionarão nos próximos meses. Nos monitores dos vagões do metrô são vinculadas ações do governo em prol das pessoas que passam frio: uma campanha de ajuda aos desfavorecidos. Morador de rua aqui morre. É difícil ser otimista quando, no mesmo aparelho de televisão, aparece a previsão do tempo para os próximos dias: 11 graus negativos. O número de pessoas usando o metrô aumentou explicitamente, já que pedalar pela cidade, além do perigo de acidentes por conta da neve escorregadia, é humanamente insuportável. Assim como é esperar o ônibus na calçada.
Sempre me revoltei com as imagens de bonecos de neve durante o Natal brasileiro. Enfeitar o pinheiro com chumassos de algodão era inconcebível pra mim. Então em certo ponto é satisfatório estar num lugar onde isso tudo é tão autêntico, legítimo. As praças estão todas enfeitadas. Não há lugar público que não tenha uma árvore de natal montada e cheia de adereços. Há lojas de rua em pontos estratégicos da cidade que vendem Weinachtsbaum, os famosos pinheiros. Os enfeites são chineses, claro. Aliás, isso é assunto pra outro tópico. A novidade da paisagem ainda me anima. Esse é um lago da cidade. Lugar insólito para seres humanos desprovidos de um bom casaco, gorro e cachecol, no mínimo.

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