sábado, 5 de dezembro de 2009

A noite dos 20 anos da queda do muro de Berlin

O espetáculo e as palavras das autoridades deixaram claro: o capitalismo venceu e o comunismo, segundo tal discurso, é opressão e falta de liberdade. Eu imaginei uma enquete: "Você está feliz com o sistema?" O clima era de Disneylandia, com os fogos, as luzes do Branderburgtor e a música do Bon Jov. Os guarda-chuvas formavam um outro muro e o povo unido gritou: "Fora os guarda-chuvas!" e muitos foram fechados para a alegria da massa. Hilary Clinton mexia a cabeça ao som de Placido Domingos. Angie Merkel estava de preto e radiante. Sarkozy foi levemente vaiado e estava sem a sua Bruni. Berlusconi dormiu e provocou risos. Gordon Brauwn não tem carisma algum. Obama mandou um vídeo e foi aclamado. O público era de turistas, na sua maioria: franceses, ingleses, norte-americanos e muitos brasileiros, como eu: cumprimentei, me apresentei e gritei quando a nossa bandeira cobriu as costas de um cara na garupa de outro a minha frente. O muro de Berlin é o símbolo da diferença entre dois mundos, que pareciam distintos, ideologicamente diferentes. Mas ainda existem outros tantos muros: na fronteira entre os EUA e o México, na faixa de Gaza, entre as Coréias e nas favelas do Rio de Janeiro. Num momento me senti triste: aquela festa não me contentava. Lembrei de um diálogo com os comunistas em Santa Teresa, no Rio: quando disse que estaria em Berlin nos 20 anos da queda do muro, eles revidaram: "Não temos nada pra comemorar..." Eu, sem graça me justifiquei: "Muro pra mim é sempre opressão." Mas eu também não tinha nada pra comemorar. Ficar 6 horas em pé, na chuva, serviu como reflexão. Quando vi a propaganda de carro no telão, conclui: o capitalismo venceu e com a social democracia na Alemanha, é difícil falar em pobreza, pois, ao menos nos moldes de uma brasileira, ela não existe aqui. Mas quando se trata do hemisfério sul, quando se é sul americana, subdesenvolvida, preciso concordar com o vencedor do prêmio Nobel de economia, indiano, idealizador do micro-crédito, que numa metáfora, disse: "A pobreza deveria ser posta num museu!". Ou com o operário polonês, líder do Solidariedade: "Quando se trata de ação, não se pode contar com os políticos." Ao meu lado, abracei um homem emocionado e feliz, por ver seu país, a cidade onde mora, como um lugar que simboliza a liberdade e a paz. Situação jamais imaginada por um alemão de meia idade que cresceu hostilizado pelo mundo todo, por causa de uma história que ele não viveu. Berlin iluminada parecia de alma lavada, fresca e nova. Abraçar esse homem emocionado me fez esquecer de tudo a minha volta, exceto da falsa idéia de que capitalismo é liberdade, como tudo ali tentou me convencer. Preciso conhecer Cuba...

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