terça-feira, 13 de abril de 2010

Quando Beethoven renasceu no Chile

No ano passado participei do congresso promovido pela Universidade Livre de Berlin e pela Alexander von Humboldt University, dos EUA, intitulado: "Travels Between Europe and the Americas." Mas não quero falar aqui da minha apresentação e sim, da escritora chilena Isabel Lipthay, que atualmente mora em Münster. O título do trabalho dela me instigou: “De cómo Beethoven escapó de las bombas lacrimógenas en Chile.” E na verdade, a fala dela ultrapassou a mera a apresentação oral. Ela tinha um vestido colorido, típico da América Latina e também um sorriso sincero e lúdico. Através de um telão, ela mostrou trechos de um documentário em processo de finalização, do diretor norte-americano Kerry Candaele. Eles voltaram ao Chile em 2007 com o intuito de levantar depoimentos sobre a "Ode à Alegria", poema de Schiller, escrito em 1785, que inspirou Beethoven em sua nona sinfonia. A música de Beethoven recebeu uma letra especial, que naquele contexto, signficava liberdade. O músico alemão lançou-a em 1824, em Viena. De lá pra cá, a canção rodou o mundo, foi traduzida em diversas línguas e adquiriu inúmeros significados. Um trailler do filme pode ser visto aqui. Aliás, no início, Isabel historicizou o uso dessa música na Alemanha, inclusive pelo nazismo. No Brasil ela resurge no Natal, já que sua tradução para o português, fala de paz e irmandade entre os homens.
Mas o interesse de Isabel Lipthay era falar da canção de Beethoven durante o movimento de resistência no contexto da queda de Salvador Alende, em 11 de setembro de 1973 e também durante a ditadura de Pinochet. A canção significava oposição no Chile e também foi cantada por ela. Vítima da ditadura, exilada política, hoje ela considera Münster sua terra. Conforme ela mesma frisou, é lá onde ela plantou uma maciera no quintal e também amigos. A performance dela provocou emoção, quando em frações de segundo, se sente os pelos dos braços se levantarem, arrepiados. Foi um depoimento, enfim. E no final ela cantou, lindamente, foi aplaudida e assediada pelo público. Eu tive vontade de abordá-la, dizer algo e lhe dar um abraço, mas preferi me calar e segui pra outra sessão. No último dia do congresso foi oferecida uma viagem à Weimar e nos encontramos no trem. Então pude dizer e me solidarizar. A ditadura militar no Chile foi certamente a mais violenta da América Latina. Foi tardia, se compararmos com a brasileira. Muitos dos nossos intelectuais de esquerda, como Darcy Ribeiro e Miguel Arrais, foram exilados no Chile e até participaram do governo Allende. E no 11 de setembro latino americano, o palácio do governo foi bombardeado com o ostensivo apoio dos EUA. Morria o presidente socialista eleito democraticamente pelo povo chileno, Beethoven era ressuscitado e Isabel fora obrigada a deixar sua pátria rumo a Alemanha.   

Um comentário:

  1. Querida Isabela:

    gracias por el hermoso analisis de mi presentacion en el congreso de Berlin. Por analizarla desde la perspectiva de Beethoven y Schiller desde la "Ode an die Freude" de la Novena Sinfonia, que en popular version en español se llamo "Himno a la Alegria", version de Waldo de los Rios. Muy bien tu relacion del tema con nuestras dictaduras latinoamericanas. Si. Muchos intelectuales del continente encontraron asilo en Chile bajo Allende, y el Golpe del 73 los volvio a perseguir.Tanto que conversar! Si quieres, te envio la presentacion en español y en ingles. Con gusto podemos encontrarnos!
    Mi fuerte abrazo, Isabela!

    Isabel Lipthay
    Münster, Alemania
    www.contraviento.de

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