segunda-feira, 19 de abril de 2010

A palavra de Jesus Cristo a minha porta

Há alguns dias atrás dois jovens senhores, engravatados, tocaram minha campainha sorridentes. Eram religiosos testemunhas de Jeová que queriam pregar a palavra. Ocupada, escrevendo, disse que não entendia nem falava muito bem a língua alemã, mas que era cristã e agradecia a visita. Perguntaram de onde eu era, deixaram um panfleto da igreja e foram embora. Eis que hoje, mais de 15 dias depois, missionários da mesma igreja tocam a minha campainha e se apresentam em bom português, dizendo que sabiam que aqui morava uma brasileira. O interessante é que eles subiram direto, sequer interfonaram. Eu estava à vontade em casa, trabalhando no computador, e não me senti disposta a convidá-los a entrar, coisa que meu pai fazia sempre. Coincidentemente, hoje faz 3 meses que meu pai morreu e me dei conta disso na conversa, ao falar da crença dele, também protestante, e de um tio que é testemunha de Jeová, e que me mandou um e-mail muito bonito depois do desencarne do meu velho. Eu não gosto de religião. Acho que tosa muito as pessoas. Mas meu cristianismo é inevitável. Entro sempre em igrejas com muito respeito, ajoelho e rezo. Aliás, gosto muito de entrar em igrejas. Sempre que uma "atravessa" meu caminho, se tenho tempo, entro. Nunca tomei hóstia por não ter acabado o curso preparatório. Tive formação espiritualista e acredito em muita coisa do kardecismo. Assim como as meditações do Brhama Kumaris me fizeram um bem danado certa época no Rio de Janeiro. Os testemunhas de Jeová foram perseguidos pelo nazismo. A doutrina não aceita transfusão de sangue e isso é coisa que não entendo. Meu pai recebeu sangue antes de morrer e eu não seria capaz de impedir, por uma crença religiosa, de tentar salvá-lo. Aqui na Alemanha, as pessoas pagam um imposto especial para a Igreja que fazem parte. O cidadão precisa se desligar oficialmente da religião para não pagar mais impostos. No Brasil a coisa é bem diferente, já que o governo dá incentivo fiscal e é bem fácil abrir um templo religioso. Certa vez li uma lista absurda de igrejas brasileiras. Seus representantes reacionários (quase sempre) estão na TV e tem uma bancada política admirável. Tenho nojo dessa mistura: política com religião.

Mas voltando pra visita a minha porta, a moça de Maceió quis encontrar uma via de acesso na conversa e me perguntou se eu já havia sofrido algum tipo de preconceito, ao mesmo tempo que me ofereceu uma revista da sua igreja (foto). Eu fiz cara de quem estava pensando, mas já negativamente, quando ela disse: "Você tem mesmo cara de alemã...!" Então imaginei que esse talvez fosse o ponto de acesso que eles tenham encontrado para abordar os brasileiros em Berlin. Certamente é muito mais fácil converter alguém que sofre preconceito fora de seu país ou passa por uma depressão. Não importa, eles faziam o trabalho deles e eu os tratei com respeito e simpatia. E lembrei das visitas que os testemunhas faziam ao meu pai: eram tão boas, eles conversavam horas a fio. E meu pai era um filósofo de rua, dizia coisas bem profundas às vezes. Contrariando as crenças do casal a minha porta, já que os testemunhas de Jeová não acreditam na vida após à morte, mando essa energia terrena boa da visita deles pro meu pai, onde quer que ele esteja agora... e que assim seja! Amém...  

Um comentário:

  1. Nossa Isa, esse povo todo pra mim parece E.T.
    Lembrei agora de quando morava na vila Hope, atrás da UEM, e estes indivíduos vinham bater à minha porta!
    Eu, particularmente, sou da opinião de que crença é algo muito particular, mas é político, invariavelmente. Liberdade de crença é algo que apoio, mas com algumas restrições afinal se alguns tem liberdade de ser cristãos ou etc, outros tem a liberdade de ser ateus ou o que quiserem. Mas me irrita a disposição destas pessoas em achar que estar "tão certas" ou "no único caminho possível" que se dão ao direito de bater à sua porta, ocupar seu tempo, tentar te convencer. Pelo seu post dá pra perceber que os mecanismos mudam conforme o público também. Imagine! ser abordada por testemunhas de jeová na terra de Goethe,Adorno e etc.

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