quinta-feira, 18 de março de 2010

Percepções: Munique e Viena

Eu sempre ouvia que o sul da Alemanha é mais católico, assim como a Áustria. E isso foi logo perceptível. Uma das principais estações de metrô de Munique se chama Marieplatz e em Viena a rua que me levava ao albergue da juventude em que me hospedei era a Mariehilferstrasse, ou rua Maria do Socorro, em tradução literal. Não conheço nenhuma rua com esse nome em Berlin, sequer estação de metrô. Mas temos a rua Karl Marx, uma estação de metrô e ainda uma alameda que leva o nome do filósofo. Temos a praça Rosa Luxemburgo e a Friedrich Engelsstrasse também. Entrei em mais de 7 igrejas em Viena, todas católicas e riquíssimas. Eu fazia assim: saia andando sem rumo, apreciando a arquitetura e sentindo o clima. Foi assim que entrei nas igrejas, sem um plano previamente traçado. E foi assim também que entrei em clube de rapel, palestra de literatura, ateliers de pintura e vernissagens. A grande surpresa pra mim foi a Biblioteca Nacional da Áustria (foto do seu interior abaixo). No café da ópera me dei ao luxo de comer um pedaço da famosa Sachertorte acompanhada de um café Mozart, que leva conhaque (foto). Fazia frio e o vento era forte. Então entrar nos lugares, abrir portas desconhecidas funcionava também como estratégia de fuga do clima rigoroso.
Em Munique vi rapazes indo pra balada com aquelas vestes típicas em que se vê apenas em tempos de oktober fest em Blumenau. Claro que não tão esteriotipados, mas vi uns com aquelas calças curtas feitas de um tecido que parece feltro, levando uma garrafa de cerveja. Outros portavam o chapéu típico da Baviera. No domingo teve jogo de futebol e alguns uniformizados entraram na estação aos berros, fazendo arruaça e cantando algo para irritar os policiais, pois ouvia a palavra politizei. Tanto em Munique como em Viena vi mulheres mais velhas portando lenços na cabeça e posso garantir que não eram muçulmanas e sim católicas mais antigas.  Fica na região de Munique, que é a capital do estado da Baviera, a cidade de Regensburg, alvo de um escândalo recente envolvendo o irmão do papa Bento XVI, Georg Ratzinger. Ali fica o coral mais antigo e famoso do mundo, os canarinhos da catedral de Regensburg, que segundo denúncias, muitos de seus membros infantis sofreram abusos. O assunto é pauta de discussão em todo país, um escândalo, enfim.
Em Viena fui "recepcionada" com uma passeata que, segundo os jornais do dia seguinte, reuniu mais de 10 mil estudantes (fotos). Tinha trio elétrico com música eletrônica, tinha grupo de percussão, alguns malucos divertidos vestidos de palhaço. Era uma manifestação estudantil contra o acordo de Bolonha, uma tentativa da União Européia de padronizar o ensino superior e que tem sido acusado de alinhar a educação ao mercado, ao sistema e tal. Recebi mini jornais, mas não pude entender o assunto à fundo. Desci a praça Europa, pela rua Maria do Socorro acompanhando a passeata, mas meus passos rápidos me levaram a disperssão. Não preciso dizer que a cidade estava repleta de policiais e até helicóptero sobrevoou a rua. Naquela noite ainda caminhei no bairro judeu com ruas estreitas e charmosas. Jantei num restaurante italiano, mas tomeu cerveja austríaca. Na caminhada do dia seguinte, notei e fotografei mais de uma vitrine com imagens de fetos em desenvolvimento e panfletos oferecendo ajuda à mulheres com gravidez indesejada. Panfletos em 3 línguas, como os da foto,  ficavam também penduados para o lado de fora da "loja". O aborto é legalizado na Áustria desde 1975 e certamente por ser um país bastante católico, há uma espécie de contra-ofensiva da Igreja na tentativa de impedir que as mulheres abortem. O que eu achei mais interessante foi isso aparecer em ruas comerciais, explicitamente, como uma loja ou coisa assim. Em uma das vitrines havia a imagem de uma santa. Acabei escrevendo mais sobre Viena. E meu tempo expirou por hoje.


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