terça-feira, 2 de março de 2010

O campo de Sachsenhausen

Desde que cheguei em Berlin ensaio pra visitar o campo de concentração de Sachsenhausen, no distrito de Oranienburg, ao norte da cidade. Passeio importante mas um tanto desagradável. Resolvi acompanhar um amigo brasileiro de passagem pela cidade que ficou hospedado na minha casa. Já no trem, pensamos que foi por aquele mesmo caminho que há algumas décadas atrás os prisioneiros eram transportados até lá. O lugar é grande, um terreno em forma de triângulo, o mesmo formato do símbolo de identidade posicionado no uniforme que os prisioneiros usavam, mudando apenas a cor. Como um sistema de identificação: vermelho para os inimigos políticos, rosa era usado pelos homossexuais, testemunhas de Jeová usavam roxo, o triângulo de cor castanha era para os ciganos, os prisioneiros estrangeiros usavam o azul, as mulheres de má fama o preto, os judeus usavam o triângulo amarelo. Muitos judeus portavam dois triângulos coloridos, formando a estrela de David. Em alguns momentos da visita o que vimos foi tão absurdo, tão desumano, que ficava difícil acreditar que aquela foi uma história real. Mas tudo ali era pra ser lembrado, jamais esquecido. Não se paga taxa alguma para a visitação. Havia muitos grupos de jovens, tanto estrangeiros como alemães com seus professores. A temperatura abaixou bastante de ontem pra hoje, e fomos surpreendidos por uma chuva que eu nunca tinha visto: pequenas bolinhas de gelo, que não eram de neve em floquinhos, mas pedacinhos pequeninos de granizo. 
Logo na entrada do complexo, a frase típica dos campos nazistas: "Arbeit macht Frei", algo como: "O trabalho liberta." Inicialmente era um campo de trabalhos forçados e foi um dos primeiros a serem fundados, em 1936. Mais tarde, com a chamada solução final, o lugar foi palco de barbaridades: as trincheiras e valas estão lá, como veias abertas do horror. Por lá passaram cerca de 200 mil pessoas, muitas foram figuras importantes, como juristas, homens de negócio, políticos estrangeiros e alemães, principalmente de esquerda (comunistas ou da social democracia), considerados inimigos políticos pelo regime nazista. Esses ficavam em celas individuais, diferente dos trabalhadores, que ficavam em alojamentos coletivos. Em um dos cômodos da prisão, ficava um prisioneiro especial de Hitler: um padre comunista. Desculpe o descuidado, mas não anotei nada ali, e portanto não sei o nome dessa figura. Escritores, políticos eleitos e judeus de destaque ficavam ali, numa espécie de solitária. A sala de banho (espécie de bacia gigante com um chafariz no meio) e os toilettes coletivos estão lá e martelam a cabeça do visitante, como uma bigorna histórica.... 
Um grupo de trabalhadores "privilegiados", já que podiam ler jornal, jogar tênis de mesa e cartas, receber cartas e caixas de comida da família, eram responsáveis pela produção de documentos oficiais do banco inglês. Eu deduzi que eram espécies de notas promissórias oficiais: papéis delicados e importantes, enfim. Entre os objetos expostos, vimos talheres e uniformes, instrumenstos de tortura e restos de fornos crematórios, além de objetos pessoais que trouxeram todo o horror mas também a (des)humanidade praticada por e contra seres humanos. Alguns vídeos mostraram o campo e a relação com a cidade. As famílias dos oficiais da SS, a polícia nazista, foram morar ao redor do campo e tinham uma vida em comum com os cidadãos: as crianças frequentavam a escola, a dona-de-casa comprava coelhos e galinhas abatidos pela vizinha, moças se apaixonaram e se casaram com homens da SS. Foi ali em Sachsenhausen a central de todos os campos de concentração nazistas. Muitos oficiais foram treinados ali. Como um lugar de disseminação do terror. Em 1945, com o fim da guera, os soviéticos transformaram o campo em prisão por cerca de 5 anos, e mais de 12 mil pessoas morreram ali nesse período.
Enfim, o lugar lembra morte e sofrimento, opressão e tortura. E deve servir como monumento de reflexão, sempre.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gostei deste relato. Sempre gosto de boas contribuições em português sobre o nazismo, a segunda guerra mundial e as suas conseqüências, pois trazem essa tragédia histórica para mais perto dos brasilieros, que a conhecem infelizmente com muita distância, não somente geográfica.

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