terça-feira, 16 de março de 2010

O Congresso de Viena

Minha pesquisa é sobre o século XIX, mais especificamente a primeira metade. E nesse período, o Congresso de Viena foi um acontecimento político marcante. Com a queda de Napoleão Bonaparte, as potências européias, sob o comando do Império austríaco, se reuniram em Viena entre 1814 e 1815. A reunião é conhecida como um marco da restauração das monarquias, mas não quero falar em historiografia aqui. Quero escrever sobre Viena...
 Pois bem, a queda de Napoleão motivou o encontro em Viena. Então esse era o meu maior interesse quando estive na cidade. A capital da Áustria foi bastante polpada pelas guerras todas. Penso isso se a comparo com Berlin, onde os prédios com mais de 150 anos são bem raros. Então, cidades como Praga ou Viena se agigantam. O Congresso de Viena aconteceu no palácio Hofburg, cede da monarquia austríaca na época. Os Habsburgo governaram a Áustria por cerca de 600 anos, mas mantiveram ligações consaguineas com vários países e dinastias. Era a velha tática de casamentos arranjados. Foi assim que a mulher de "sangue azul", Leopoldina Habsburgo casou-se com o nosso futuro D. Pedro I, por procuração, em 1817. Eu passei pouco mais de 24 horas na cidade e bastava caminhar pela cidade velha, um museu a céu aberto. Porém a visita ao castelo onde ocorreu o Congresso estava mesmo nos meus planos. Na primeira parte do museu estão em exposição a prataria, adereços e porcelanas da corte e seus convidados. E está lá o rico acervo de talheres, pratos e baixelas produzidos exclusivamente para os nobres convidados de Metternich, nobre que presidiu a reunião iniciada em 1814. A riqueza e suntuosidade enche os olhos antes de revoltar. Na região da Boêmia, hoje parte da República Checa, eram produzidas as porcelanas. E que produção: rica em ornamentos em ouro e cores fortes. Os pratos mais elaborados levavam 5 anos para serem produzidos e segundo informações do museu, conservam até hoje os segredos na sua elaboração. As peças em ouro são um desbunde incrível.
Na segunda parte do museu, onde estão os aposentos, há uma exposição sobre a famosa imperatriz Sisi, imortalizada pelo cinema também por Romy Schneider, que fez seu papel nos anos 1950. Sisi era o apelido carinhoso de Elisabeth, duquesa da Baviera, que se casou com o rei austríaco Francisco José I. Impressionado com a beleza da prima, desposou-a em 1864, quando ela tinha 16 anos de idade. A exposição é rica e mostra bastante seu acervo pessoal. Até seu luxuoso figurino negro usado depois do suicídio de seu filho, em 1889. Mas também os acessórios de ginástica, que ela praticava diariamente. Tida como avessa ao protocolo exigido pela condição de imperatriz, gostava muito de viajar. E foi em uma dessas viagens que encontrou a morte. Na Itália, em 1898, um ativista anarquista cravou-lhe uma faca no peito. Certamente esse desfecho trágico tornou sua trajetória lendária.
Eu já fiz alguma referência a isso aqui no blog. E volto a afirmar: o excesso, a riqueza, a suntuosidade que as monarquias, por tradição, ostentavam como sendo naturais e por tão longo tempo, me parecem incabíveis no século XIX. E a reunião em Viena teve esse significado, como um arranjo entre as potências e as dinastias monárquicas. Apesar de Napoleão ter-se auto coroado imperador em 1800, ele não não tinha sangue azul e, de algum modo, disseminou os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade pro resto do continente. Só um exemplo. Antes de Napoleão, em algumas regiões da Prússia, os camponeses não tinham liberdade sequer de se casarem com quem bem entendessem, quanto mais de se desligarem da terra. Ranços do feudalismo que só desapareceram porque seus governantes se viram obrigados a agirem assim, sob o perigo da dominação francesa.
Depois do congresso os movimentos de 1848 demarcaram ainda mais as posições. O Manifesto Comunista, as divergências entre Karl Marx e Bakunin são alguns exemplos de que o mundo não seria mais o mesmo. O descompasso foi violento e o jovem anarquista italiano, Luigi Lucheni, só pensava em uma coisa: ferir um integrante da realeza que representava retrocesso e desigualdade. Não importando qual. E Sisi estava no seu caminho, morrendo a mulher e nascendo o mito. A faca usada no seu assassinato está lá, em exposição, junto de uma das várias presilhas cravejadas de diamantes que ela usava em ocasiões especiais. 
Amo estudar o século XIX...!

3 comentários:

  1. Oi, Isabela. Não é para comentar sua postagem, é porque acabo de conhecer o seu blog e de saber que você está em Berlim. Por acaso, vi um comentário seu no blog Bibi de Bicicleta, sobre a morte do Rogério Oliveira, que eu conhecia muito. Daí, cheguei a você. Espero que esteja tudo bem por aí nessa terra tão fria e tão interessante. Vamos ficar em contato, vou seguir o seu blog. Um beijo. Helion

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  2. Adoro acompanhá-la pelo blog... vc. é uma historiadora nata e tem toda sensibilidade, inteligência e sabedoria para escrever, descrever os detalhes de suas experiencias e estudos para seus leitores;/seguidores... sou uma delas e aprendo muito contigo... Aproveite cada minuto aí... a vida é bela e as pipocas pulam, saltam, vibram... um beijo lindona. Alecarrijo.sampa/Brasil :-)

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  3. ...adoro, suas experiencias se tornam aulas de história da cultura.... te sigo, mesmo a distancia... seu Paulo

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