Quando me encontro com pessoas, começo a conversar e conhecer, sempre há um italiano na roda. Isso passou a ser frequente e me instigou. Daí numa roda de amigos, dei a idéia de que esse 'fenômeno' pudesse significar uma espécie de exílio voluntário. Pessoas que por serem contrárias ao governo de Silvio Berlusconi, resolveram deixar seu país. Eu falei pra instigar, provocar debate, mas não deu outra: houve quem concordasse comigo. Um amigo francês inclusive, disse que conhece uma italiana que jogou com a própria sorte, dizendo: "Se Berlusconi for reeleito eu deixo Roma!"
Dito e feito, pois a tal está morando em Berlin. E gosta muito daqui. Certamente com a União Européia o trânsito de pessoas ficou muito mais fácil. É uma Europa sem fronteiras, enfim. Certa vez conheci um turista italiano bon vivant que estava na cidade por conta do Oscar Wilde, que passou por aqui no final do século XIX. Aliás, o rapaz de Nápoli tinha traços e trejeitos do escritor, um verdadeiro dandi. Tinha um ar esnobe até. Papo vai papo vem, tocamos no nome do primeiro-ministro do país dele. A resposta foi insípida e pouco convincente. Em rodeios ele disse que não via movimento popular de oposição na Itália. Na verdade, sua resposta pareceu descaso, como quem diz: não quero falar sobre isso, ou, isso não é importante pra mim. Enfim, o jantar acabou, ele voltou pro seu país e no final de semana seguinte Roma viu uma manifestação gigante de descontentes, quando milhares de pessoas sairam às ruas em oposição ao governo Berlusconi. Isso foi no final de 2008.
Enfim, os motivos do movimento de pessoas no mundo são inumeráveis e muito particulares. Já ouvi um brasileiro de Recife dizer que se recusa a voltar, pois a violência e o desrespeito aos direitos individuais no Brasil se tornaram inadmissíveis pra ele. Outra garota lésbica do sul do país encantou-se com a liberdade que ela tem aqui em Berlin. Falou indignada sobre a perseguição aos gays nas terras tupiniquins. Também me disse que pretende se estabelecer por aqui. Cada um sabe onde o calo aperta, como diz minha mãe. Mas certamente, num país em que a esquerda sempre teve muita força, ver um Berlusconi no poder deve ser bem decepcionante...
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