domingo, 17 de janeiro de 2010

Violência

Quando se trata de Berlin, o bairro de Neukölln é tido com o primeiro na escala de violência. Por isso, como moradora do bairro, posso ser um testemunho. Por exemplo, a maioria dos beneficiários do Hartz VI, o maior programa social da Alemanha, mora em Neukölln e Berlin é a cidade que mais tem assistenciados. Eu notei que a idéia de criminalidade e violência muda de figura se valermos de comparação com o Brasil. Meses atrás dois presidiários da região de Bremen fugiram da cadeia com a conivência de um carcereiro. Achei incrível a verdadeira “caça” aos fugitivos. Fecharam estradas com blitz policiais, divulgaram maciçamente as fotos deles na mídia. A princípio achei sensacionalismo, mas percebi que isso é visto com tamanha seriedade: se eles estavam presos, é por motivo suficientemente importante para que fora da prisão sejam vistos como um perigo para a sociedade. A máxima de que o crime não compensa faz muito sentido na Alemanha, onde a ajuda aos desfavorecidos é um compromisso social claro e verdadeiramente uma prática do poder público. E isso não é visto como assistencialismo barato ou preventivo: é uma obrigação do Estado e um direito assegurado aos cidadãos. E com esse mesmo sentido de cidadania que um alemão avistou um dos foragidos de bicicleta numa estrada rural e mandou uma mensagem via celular pra polícia, que nos minutos seguintes o prenderam. Não preciso dizer que o carcereiro cúmplice virou presidiário.
Uns dias atrás voltando da piscina pouco antes das 10 da noite, acompanhei o atendimento de um homem oriental que havia sido atropelado. Vale lembrar que o bairro tem uma enorme população de imigrantes. Já estavam a postos 2 carros da polícia e uma ambulância. Um comerciante havia colocado o homem em cima de uma mesa e os médios fizeram os primeiros atendimentos ali. Em uma circunstância dessa no Brasil certamente eu passaria reto. Mas ali, como estrangeira (e agora como blogueira) eu fiz questão de parar e observar. Um homem que fazia o mesmo papel que eu, me mostrou o carro com o pará-brisa todo trincado e disse que o acidentado foi lançado a dois metros de altura.
Na coluna policial do jornal Berliner Zeitung publicado dois dias depois do episódio, havia uma notinha sobre o ocorrido. O motorista estava alcolizado. Aí fiquei pensando sobre o fato: uma ocorrência de trânsito, tão corriqueira pros parâmetros brasileiros, ter ido parar no jornal. Foi um relato sem opinião ou sensacionalismo, apenas constatando uma cena ocorrida num bairro violento. Então, diante disso, continuo relativizando o conceito de violência...

Um comentário:

  1. o post é uma mistura de twitter (troll) com os números de lost - não significa nada. Vamos trocar o Rio por Berlim por uma semaninha :)
    Bela!
    Beijo

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