quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Hartz-VI ou o socialismo alemão

A imprensa alemã tem noticiado por esses dias os resultados benéficos e maléficos do "Hartz VI", como ficaram conhecidas as ações governamentais no mercado de trabalho. As reformas começaram em 2002 e ganharam o nome do responsável pelo programa, Peter Hartz. O número 4 sugere as etapas e as reformas que o programa foi sofrendo ao longo do tempo. Eu não sou capaz de escrever detalhes sobre o programa, mas posso dizer da importância desse tipo de ação, já que funciona como ajuda social.

Numa conversa com brasileiras, falávamos descontraidamente das diferenças entre a Alemanha e o Brasil. Foi quando ouvi de uma das mulheres: "A Alemanha é um país socialista." Certamente, tal afirmativa veio de uma pessoa que desconhece conceitos, no mínimo. E não se tratava de alguém pouco instruído. Minha reação, foi, sem rodeios: "Mas porque você acha isso?" Daí em diante a conversa seguiu na pontuação das conquistas sociais alemãs. E o Hartz VI pode ser visto como o grande "culpado" por esste tal "socialismo" alemão.
As pessoas desempregadas são cadastradas nos chamados Job Center's e têm auxílio do governo para o pagamento de suas contas, além das despezas para a alimentação; em alguns casos, o governo paga TODAS as contas, ou seja, sustenta o cidadão. A ajuda é feita também com o intuito de conseguir trabalho, claro. Por outro lado, há acordos entre esses escritórios públicos e as empresas empregadoras. Em alguns casos, quando se consegue o emprego, parte do salário da pessoa é pago pelo Job Center. Conheço um caso em que o cara ficou 7 meses desempregado e, cadastrado no Job Center, ele foi sustentado pelo governo, literalmente. Mas disse que enfrentar a burocracia é coisa muito chata e desgastante. Ficar sem trabalho, pior ainda. No debate no canal de TV público ontem, o programa trouxe dois casos: num deles o Job Center financiou a abertura de uma loja pra mulher, que hoje é empregadora, ou seja, é um caso de sucesso. A outra mulher, de 32 anos, têm 4 filhos e depende totalmente do Estado pra sobreviver, recebendo cerca de 1.600 euros por mês do governo (Nessa hora eu penso no nosso Bolsa Família, tão difamado, não?). A tal só consegue empregos temporários, disse que o fato de ter 4 filhos atrapalha muito, pois os patrões reconhecem na sua maternidade a possibilidade de ter a funcionária "roubada" do emprego, por conta de possíveis doenças dos filhos (um problema de gênero que afeta todas as mulheres do mundo...)
Enfim, o desempregado é arcado pelo Estado e certamente muitos cidadãos que recebem os benefícios, se acomodam e se desestimulam, abandonando o desejo de trabalhar. Mas a mãe de 32 anos dizia: "Eu só quero trabalhar..."
Após a segunda guerra mundial, o chamado Estado de bem-estar social foi, também, uma resposta dos países da Europa ocidental diante da "ameaça vermelha". Situação aliás, que dividiu literalmente a Alemanha em dois países, até 1989. Acredito que pelo fato do comunismo ter "morado ao lado" por tanto tempo, as conquistas sociais aqui sejam maiores. Há quem discorde de mim, enfim. E é diante de ações adotadas pelo governo, como o Hartz VI, carregadas de certo "protecionismo" social, que ouvir de um brasileiro que a Alemanha é um país socialista, não fica tão absurdo assim.
E como dizem que a propaganda é a alma do negócio, um vendedor de Döner valeu-se do famoso termo Hartz VI para anunciar sua oferta de lanche barato.

Imagem retirada daqui.

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