quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Leitura e informação



Não tenho dúvidas de que a Alemanha é um país de leitores, muitos leitores. Basta circular no metrô e perceber a companhia da maioria dos passageiros: livros, jornais e revistas. Mesmo com o vagão cheio, já observei gente em pé, deliciando-se com a leitura. Uma outra coisa que eu observei, é que os livros não mudam de preço de uma livraria pra outra, são taxados com o mesmo valor e não têm preços exorbitantes. Existe, claro, uma literatura de massa, vamos dizer assim, já que muitos livros são publicados em papel jornal e são como as nossas edições de bolso, menores e compactas. Mas tem as edições mais sofisticadas, como o último livro do Machado de Assis, "Memorial de Aires", que comprei de presente no ano passado e a edição é espetacular. Não poderia ser diferente, já que se trata de um clássico da nossa literatura. Em alemão se chama "Tagebuch des Abschieds" e foi traduzido pelo professor Berthold Zilly do LAI, instituto em que estou vinculada aqui em Berlin.


Só pra se ter uma idéia, circulam diariamente por volta de 200 jornais, regionais ou nacionais, sem contar as publicações estrangeiras, da Turquia principalmente. Muitos debates inciados pela imprensa escrita vão parar na televisão, e com mais frequência nos canais públicos. A Alemanha é a terra natal de Gutenberg, tido como o inventor do sistema de imprensa no século XV, talvez esse fato contribua pra explicar a existência em profussão de leitores aqui.
Mas de qualquer modo, como tenho estudado o século XIX, percebo as disparidades em relação ao Brasil, já que apenas com a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, que minha terra natal passou a ter efetivamente um mercado editorial. Enquanto que aqui na Alemanha, foi através da imprensa que as tendências políticas da oposição (também nacionalista) expressaram idéias contra os governos prussiano, austríaco e também francês, principalemtne antes da queda de Napoleão. Até por isso os conservadores da Confederação Germânica sancionaram leis de censura à imprensa (em 1819 e 1832), o que não impediu a mobilização das classes médias, que aderiram aos paupérrimos compesinato e nascente proletariado na Revolução de 1848.

E nesse contexto apareceu o primeiro jornal "feminista" na Alemanha. Coloco o termo com cuidado, sob a pena de cometer um anacronismo, já que é um termo inexistente na época. Falava-se em emancipação feminina, enfim. O germe do que veio a ser o feminismo em fins do século XIX. Fato é que o "Frauen Zeitung" (Jornal das mulheres) foi editado em Colônia por Mathilde Franziska Anneke, companheira de um revolucionário preso. Foram publicados apenas 2 números antes de ser censurado e a responsável ser mandada para os EUA como exilada política.
De modo geral a participação feminina na imprensa e na literatura alemã pode servir como "termômetro." E a Mathilde Anneke está longe de ser um caso isolado. Muitas mulheres alemãs já experimentavam a escrita como atividade profissional no início do século XIX. E isso é reflexo do acesso à educação, que tem como consequência o interesse pela leitura, o que, em uma saidinha de metrô, é fato totalmente perceptível em Berlin.

Um comentário:

  1. Isa, muito interessante tudo que você vem "contando" por aqui. parabéns e continue motivada. Volto a insistir, me conte mais sobre teus estudos, me interessa de verdade. Beijocas

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