A grande maioria das garrafas descartáveis (tipo pet) na Alemanha, são recicláveis. Até aí tudo bem, mas o que me chamou mesmo a atenção foi a forma como a coisa funciona. Quando as pessoas compram refrigerantes, sucos ou mesmo água no supermercado, elas consomem também o compartimento de plástico que é super poluente. Entretando, os supermercados de médio ou grande porte, são equipados com máquinas que recebem esse material das mãos do próprio consumidor. Funciona assim: as garrafas que são admitidas no sistema possuem no rótulo a frase "Pfand zurück" , algo como depósito retornável, ou simplesmente têm o símbolo estampado.
Então, os consumidores se dirigem até a tal máquina e vejo quase sempre fila de pessoas com sacolas de garrafas vazias. De uma em uma, a garrafa é colocada num buraco e lá dentro, o sistema identifica através de uma espécie de scanner, que tipo de garrafa é, aceitando ou eliminando, já que não são todas que fazem parte dessa parceria. Notei que as garrafas de água mineral importadas da Turquia por exemplo, não são aceitas. Num visor ao lado, é mostrado o valor a ser creditado ao consumidor.Uma garrafa grande de suco, por exemplo, dá um bonus de 25 centavos. Já as pequenas de coca-cola, 15 centavos. Pois bem, quando todas as garrafas foram colocadas e identificadas pela máquina, o consumidor aperta um botão verde e em alguns segundos um ticket, desses de supermercado, sai da máquina com o valor total que poderá ser usado para as suas compras no mesmo supermercado. No caixa, a funcionária diminui a quantia que consta no ticket, do valor da compra final. Simples assim. E cidadão. Isso é tão corriqueiro e comum, que é programa de família, já que observei certa vez, uma garotinha na fila da máquina, afoita em querer ajudar a mãe nessa tarefa. Já vi também velhos moribundos com sacolas cheias de garrafas.
Daí quando penso numa estatística divulgada com orgulho no Brasil, de que somos o campeão em reciclagem de latas de alumínio, me entristeço. Isso reflete um problema social sério, já que muitas pessoas vivem dessa atividade ou tem nela como um complemento da renda. Uma empresa carioca, na Glória, no ano passado, pagava 10 centavos pelo quilo de alumínio: valor vergonhoso, devo admitir. Lata de alumínio é coisa rara na Alemanha. As garrafas de cerveja têm em média 500 mls e passam pelo mesmo sistema da máquina, mas também há lojas que vendem bebidas que aceitam as garrafas vazias como pagamento. A mais comum vale 14 centavos de euro. Já vi pessoas andando nas estações de metrô, com maletas de rodinhas recolhendo garrafas, provavelmente para complementar a renda também. E como em Berlin é comum e cool sair pra balada portanto uma garrafa de cerveja na mão ou caminhar pelas ruas bebendo no bico, é bem fácil encontrar nos cantos e nas latas de lixo, garrafas vazias que valem dinheiro.
Certamente esse bonus estimula as pessoas a guardarem as garrafas e levarem pra máquina. É justo, consciente e cidadão. Então me lembro de quantas vezes torrei o saco de amigos e familiares que sequer separavam o lixo orgânico do inorgânico no Brasil. Aqui, se os moradores do apartamento não o fazem, estão sujeitos à multa. Quando se mexe no bolso, para benefício ou malefício do cidadão, a coisa parece funcionar.