domingo, 28 de fevereiro de 2010

Italianos em Berlin

Quando me encontro com pessoas, começo a conversar e conhecer, sempre há um italiano na roda. Isso passou a ser frequente e me instigou. Daí numa roda de amigos, dei a idéia de que esse 'fenômeno' pudesse significar uma espécie de exílio voluntário. Pessoas que por serem contrárias ao governo de Silvio Berlusconi, resolveram deixar seu país. Eu falei pra instigar, provocar debate, mas não deu outra: houve quem concordasse comigo. Um amigo francês inclusive, disse que conhece uma italiana que jogou com a própria sorte, dizendo: "Se Berlusconi for reeleito eu deixo Roma!"
Dito e feito, pois a tal está morando em Berlin. E gosta muito daqui. Certamente com a União Européia o trânsito de pessoas ficou muito mais fácil. É uma Europa sem fronteiras, enfim. Certa vez conheci um turista italiano bon vivant que estava na cidade por conta do Oscar Wilde, que passou por aqui no final do século XIX. Aliás, o rapaz de Nápoli tinha traços e trejeitos do escritor, um verdadeiro dandi. Tinha um ar esnobe até. Papo vai papo vem, tocamos no nome do primeiro-ministro do país dele. A resposta foi insípida e pouco convincente. Em rodeios ele disse que não via movimento popular de oposição na Itália. Na verdade, sua resposta pareceu descaso, como quem diz: não quero falar sobre isso, ou, isso não é importante pra mim. Enfim, o jantar acabou, ele voltou pro seu país e no final de semana seguinte Roma viu uma manifestação gigante de descontentes, quando milhares de pessoas sairam às ruas em oposição ao governo Berlusconi. Isso foi no final de 2008.
Enfim, os motivos do movimento de pessoas no mundo são inumeráveis e muito particulares. Já ouvi um brasileiro de Recife dizer que se recusa a voltar, pois a violência e o desrespeito aos direitos individuais no Brasil se tornaram inadmissíveis pra ele. Outra garota lésbica do sul do país encantou-se com a liberdade que ela tem aqui em Berlin. Falou indignada sobre a perseguição aos gays nas terras tupiniquins. Também me disse que pretende se estabelecer por aqui. Cada um sabe onde o calo aperta, como diz minha mãe. Mas certamente, num país em que a esquerda sempre teve muita força, ver um Berlusconi no poder deve ser bem decepcionante... 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Bela e Linda in Tandem

Na última mensagem de e-mail que trocamos antes do encontro, eu disse que uso um óculos de armação branca e ela se descreveu como alta e de cabelos vermelhos. Esqueceu de dizer dos olhos lindos. Marcamos às 5 no Balzak Coffe Shop da Potsdamerplatz, perto da biblioteca e em frente ao ponto do ônibus que me leva pra casa. Fui antes na biblioteca e depois segui com os livros todos pro meu primeiro Tanden com a Linda. Cheguei na hora e ela ligou no celular pra se desculpar do atraso, pois teve a bicicleta quebrada. Hoje fez um dia lindo na cidade. Perfeito pra bicicleta. Eu almocei meu sanduíche tomando sol no beiral do prédio do Instituto Ibero Americano. Depois fui pro café pro Tandem Treffen. A coisa funciona assim: tem uma lista no site onde pessoas oferecem papo em sua língua mãe em troca de aprender a língua mãe do outro. Esse negócio de ser a língua materna nem é regra, mas eu prefiro que meu Tandem seja em alemão e português. Assim a coisa fica mais autêntica. Ela chegou e eu já tinha puxado papo com um grisalho que sentou na mesa ao lado. Tinha dito que esperava por uma mulher que eu nunca tinha visto... hehe... Foi quando ela chegou, linda a Linda. Alemoa de 28 anos e professora da língua numa escola ali perto. Sorte a minha não?? Procurei alguém pra aprender a língua de graça e me aparece uma professora de alemão que se formou em Letras. O trabalho final dela, que seria o nosso mestrado, é sobre a representação do sertão brasileiro no cinema. Pra isso escolheu 3 filmes e um deles é o Cinema Aspirinas e Urubus, que eu amei quando vi e indico sempre aqui. A sensibilidade masculina desse filme é fenomenal. O papo foi bem legal. Consegui falar sobre minha Foschung auf Deutsch. Auch über mein Leben mit Frank und Arbeit. A sintonia foi ótima. Ela morou 5 meses em Fortaleza. Fez estágio na UFC. Namorou um Tandem brasileiro seu, por 3 anos. Tandem também é motivo de encontros amorosos. Ficamos de nos falar na semana que vem para mais um Tandem Treffen.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Garoa em Berlin: um happening com reco-reco na Jan Session

Comecei a bater tambor na escola. Dez euros a primeira aula, depois passa pra 13 e a professora é minha amiga. Depois fomos num carro cheio de instrumentos: duas congas grandes, um cajón e duas sacolas com os miúdos caxixi, cheiquer, cocalhos e o meu preferido: um reco-reco vindo do folclore do Espirito Santo.  Foi um presente que a Deborah ganhou. E tem um negro esculpido na ponta: por isso vi a coisa como performance mesmo. Até porque eu só faço barulho. Tava cheio de bam-bam-bam da cena musical berlinense. Em dado momento no palco eu pensei comigo mesma: "Que privilégio!" Não sei o nome de ninguém. Mas tudo aconteceu aqui. Näo quero me escrever mais. Mas o rádio noticia o escândalo da igreja protestate daqui:  uma irmä foi pega bêbada numa blitz da polícia. Uma pessoa que deve ser exemplo e tal. É o cúmulo da cidadania, quando no Brasil os votos näo foram suficientes pra expulsar o Marcelo Dourado do programa que passa em muitas outras terras, mas é mais estúpido no Brasil, garanto. Porque é da Globo e comove, engana e perverte a sociedade. Soube de uma fraude por aqui. O assunto BBB foi soberano durante meu dia junto dos tambores... zoando numa Berlin nublada e úmida como nunca foi pra mim antes. Amanhä passo o dia na biblioteca e depois vou fazer Tandem, meu primeiro. Depois explico. Eu tenho frio nos pés mas uso havaianas. Do Brasil.
Queria dar uma chinelada nesse dourado que não serve nem pra latão... de lixo. Salve a internet que polemiza: blogosfera unida.
Chega. Deixo imagens da minha noite.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Schloss Schönhausen

No final do ano passado vi esse cartaz estampado nos painéis de publicidade em várias estações de metrô de Berlin. Tratava-se da divulgação dos resultados do trabalho da fundação responsável pelos castelos prussianos, parques e jardins de Berlin e Brandenburg.

O Schloss Schönhausen, algo como castelo da casa bonita, na minha modesta e particular tradução, localiza-se onde era Berlin oriental e por isso recebeu visitas ilustres como Fidel Castro, Indira Gandhi e Gorbachev antes da queda do Muro. Entre 1949, quando foi fundada a RDA, e 1960, foi residência oficial do presidente da República Democrática Alemã. Construído originalmente em estilo barroco no século XVII, o palácio foi aberto pela primeira vez como museu em dezembro de 2009. A moradora mais ilustre foi a esposa de Frederico, o Grande, a rainha Elisabete Cristina que viveu lá até sua morte, em 1797.
Palácio de vida longa, foi parcialmente destruído e completamente abandonado no decorrer de sua existência. Depois da reunificação, seu destino foi debatido publicamente; foi alvo de intrigas e controvérsias por conta da especulação imobiliária. Mas num país em que as heranças da cultural material são levadas à sério, sua restauração e inauguração foi divulgada aos quatro ventos pelos meios de comunicação e publicitários. Certamente, uma vitória da própria História.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Grafites de Berlin

A cidade é cheia de grafites e por diversas vezes me arrependi de não estar com a máquina pra fazer foto deles. Não foi o caso da imagem abaixo. Esse grafite fica próximo da Galeria Leste de arte, que é a exposição à céu aberto de pinturas feitas no que restou do muro. A troca de pinturas é constante e sempre que passo por ali, à pé ou de bicicleta, vejo uma nova obra sendo feita ou mesmo em manutenção. Com o aniversário da queda do Muro de Berlin no ano passado, a galeria foi passagem obrigatória dos visitantes. Em paralelo, o grafiteiro homenageou a cidade no paredão de um prédio do outro lado da rua. Berlin retratada como sexy e numa tatuagem: "Nós somos um só povo", taduzindo do meu jeito. 

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Domingo de Big Brother

A coisa é mesmo como praga: espalhou pelos canais de TV do mundo. Originalmente holandês, o Big Brother existe também na Alemanha e é transmitido pela RTL. O formato é o mesmo, mas o brasileiro me pareceu mais apelativo. Por exemplo, aquele bonequinho de olho grande virou brinquedo de criança no Brasil, apesar da indicação de idade existir na tela, garanto que muitas crianças com menos de 14 anos ficam em frente à TV com a família toda. A versão alemã tem pessoas saradas também, mas seus corpos estão quase sempre cobertos de roupa, certamente por conta do frio. Nesse ponto o clima impossibilita a exposição dos corpos como acontece no Brasil. O Pedro Bial daqui é versão feminina. As panelinhas também existem. Enfim, vou assistir um paredão amanhã e depois escrevo mais. Por enquanto o que posso concluir é que programação fútil na televisão não é privilégio do Brasil.
Imagens de pouca qualidade tiradas da tela da TV:
  

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Berlinale

Eu gosto de cinema, mas não vejo muitos filmes nem sou cinéfila. Quase sempre fico "boiando" em mesa quando o papo é a sétima arte. Berlin está repleta de gente descolada e famosa por conta do festival internacional de cinema. Pessoas coloridas, câmeras de TV e furgões com antenas enormes, tipo de satélite. Sentei com uma amiga pra tomar um café na Potsdamerplatz e o lugar estava cheio de figuras com credenciais e portando a bolsa do festival, que este ano completa 60 anos. As salas de cinema estão cheias e a venda de ingressos provoca filas imensas. Não pretendo ver nenhum filme, mas na semana que vem vai rolar no Babilonia uma sessão de Metropolis, o oringinal, com orquestra!! Vi a chamada na TV do metro, e acho essa imperdível, apesar dos 20 euros pra entrada. No site anunciam que será o filme original, com som original e lugar original, já que o cinema é super antigo. O filme de Fritz Lang é de 1927 e um clássico do expressionismo alemão. Vi há muitos anos atrás, acho que em 1994, num congresso da SBPC em Vitória.
Deixo algumas imagens captadas na rua nesses dias de Berlinale.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um exército para o gelo

Há um mês eu estava no Brasil e quando sai de Berlin, a neve na sacada do meu apartamento passava dos 40 centímetros de altura. Cheguei aqui e a coisa não está diferente. Mesmo que não neve mais, o gelo que acumula, antes fofo feito raspadinha, vai se transformando em blocos, pedras duras mesmo. Nas regiões residenciais da cidade os moradores são os responsáveis pela limpeza da sua calçada. Cada família deve assim raspar o gelo, fazendo um caminho no chão em frente a sua casa. E se não fizer assim, pode ser punida com o pagamento de uma multa. Uma amiga que mora em sobrado passa dificuldades, já que sua máquina usada para esse fim quebrou. Como em frente ao meu prédio existem lojas, acredito que essa seja uma tarefa dos seus proprietários.
Hoje de manhã, à caminho da biblioteca, presenciei a cena abaixo: verdadeiro exército de homens cutucando o chão pra retirar com pás coloridas as pedras de água congelada. Estou há dois dias de volta à Berlin e ainda não nevou, mas a temperatura negativa mantém o congelamento. Assim, montes de gelo são feitos nos cantos das calçadas. Junto com as pedrinhas anti-derrapantes, dão às montanhas de gelo um aspecto de sujeira. A outra foto é da escadaria da Rathaus Neukölln, que teve parte tomada pelo gelo.


   Da estação do metro até meu destino, foram tantas as pequenas montanhas de neve observadas, que imaginei um intercâmbio entre Brasil e Alemanha: neve daqui nutrindo as nossas áridas terras nordestinas; gelo que viraria água pra regar o chão. Quanta imaginação a minha...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quando se morre

Eu liguei de Maringá para Berlin dando a triste notícia da morte do meu pai. A reação foi de tristeza e lágrimas, mas também ouvi, depois de relatar sobre o enterro: "Mas já?" Tal reação expressa os procedimentos funerários existentes aqui na Alemanha. Quando uma pessoa morre, o corpo fica dias congelado (o período pode variar, podendo chegar até um mês!). Isso por conta de procedimentos burocráticos também. É comum a opção de cremar. A missa ou o culto acontece nas igrejas, sem a presença do corpo e antes do enterro propriamente dito. Dias depois, normalmente 3 dias, num lugar no cemitério, as pessoas rezam, o caixão permanece fechado e logo é realizado o enterro. Em alguns lugares as mulheres usam vestimentas antigas e típicas, simbolizando a "passagem." Outra informação instigante sobre questões religiosas alemãs, é sobre o pagamento de impostos. Quando uma pessoa adulta possui uma religião, está ligada a alguma instituição religosa, ela é obrigada a pagar um imposto específico por isso. E para que isso não aconteça, a pessoa tem que, oficialmente, desligar-se a tal religião. Através do preenchimento de um formulário específico. Eu costumo dizer que essa é uma semelhança entre minha terra natal e a Alemanha: a burocracia, com o diferencial de que no Brasil a lógica me parece um pouco mais absurda e que aqui as dificuldades de burlá-la é maior, quase, impossível.
Estou de volta à rotina e gostaria de assistir um culto na igreja evangélica daqui de Berlin, dia 19, quando faz um mês que meu pai desencarnou. O movimento todo, a correria que foi minha ida ao Brasil, foi bem dolorido, mas tive tempo de encontrar meu pai em vida. Quando vi o céu de cima, pedi que ele me esperasse chegar. Ele soube da minha ida, me reconheceu no hospital. Sensível e ainda dolorida, retomo a pesquisa e o cotidiano com casaco pesado e neve. A temperatura em Berlin está abaixo de zero...